A forma como lidamos com a morte vem sendo transformada pela tecnologia. O que antes era restrito ao espaço físico e ao silêncio íntimo da ausência, hoje também se expressa nas telas, nos cliques e nas palavras digitadas. Segundo Anna Cláudia Abdon, especialista em Psicologia do Luto da Empresa Vila – referência em assistência funerária no RN – esses ambientes funcionam como uma continuidade simbólica do vínculo com quem partiu.
“Compartilhar lembranças, escrever mensagens ou simplesmente reler homenagens pode ajudar na elaboração da perda, oferecendo acolhimento e conexão”, explica a especialista.
Assim, memoriais digitais onde as pessoas podem compartilhar online os seus sentimentos têm se tornado espaços significativos para quem precisa se despedir e uma tendência adotada por empresas do setor funerário, como a Sempre Assistência Familiar. Além dessa opção, as transmissões online de velórios também ganharam espaço como recurso de apoio emocional.
“Em um mundo cada vez mais conectado, e por vezes fisicamente distante, participar da cerimônia digital pode trazer conforto. Saber que aquele momento está acontecendo e vivenciá-lo de forma concreta é imensamente importante para o processo de luto”, destaca Anna Cláudia.
O que fazer com as redes sociais de quem partiu?
Outro reflexo dessa nova realidade está nas redes sociais. Perfis de pessoas que se foram podem se transformar em verdadeiros tributos virtuais, pontos de encontro para lembranças, homenagens e até mesmo conversas unilaterais. No entanto, esse ambiente também pode ser fonte de sofrimento. A psicóloga reforça que não há uma regra: “É preciso se observar e refletir: visitar esse perfil me ajuda ou me prende na dor?”, questiona.
No âmbito jurídico, o PL 1689/21, em análise na Câmara, estabelece regras para o tratamento de dados e perfis digitais de pessoas falecidas. A proposta altera o Código Civil e a Lei de Direitos Autorais, incluindo esses dados como parte da herança. De acordo com o PL, os herdeiros poderão acessar e administrar os perfis, exceto se houver testamento contrário. Sem herdeiros, os provedores devem excluir o conteúdo mediante atestado de óbito. A proposta será analisada conclusivamente por comissões da Câmara.
O chamado legado digital — que envolve desde redes sociais até e-mails, fotos e arquivos armazenados online — é um território delicado e profundamente pessoal. Decidir entre manter ou encerrar um perfil é parte do processo de luto, e não existe certo ou errado, conforme aponta a psicóloga. “O importante é compreender o que aquele espaço representa para quem ficou”, conclui a especialista.