Em novembro é comemorado o Dia Nacional da Língua Portuguesa (05), mas, infelizmente, em forma de leitura, ela parece estar cada vez mais ausente da vida dos brasileiros. O país perdeu 4,6 milhões de leitores adultos em quatro anos, como mostra a pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, que está em sua quinta edição e é feita pelo Instituto Pró Livro em parceria com o Itaú Cultural. Foram realizadas 8.076 entrevistas em 208 municípios de 26 estados entre outubro de 2019 e janeiro de 2020. Apesar dos dados alarmantes, o estudo também revelou que as crianças de cinco a dez anos estão lendo mais, diferentemente das demais faixas etárias.
De acordo com a professora do curso de Pedagogia da Estácio, Raquel Baeta, que é doutora em Educação, alguns fatores explicam por que crianças dessas idades estão com a leitura em dia. “A descoberta do mundo da leitura acontece juntamente com o processo de alfabetização e letramento nessa fase dos cinco aos dez anos. O universo da literatura infantil desperta nas crianças a vontade e o desejo de aprender a ler com autonomia para entrar nesse mundo sem o intermédio do adulto, dialogar com as diferentes linguagens e ampliar sua visão de mundo”, esclarece a professora.
A especialista ressalta que outro ponto favorável ao hábito da leitura nessa etapa da vida é o contato quase que diário com a literatura. “Estratégias de mediação de leitura, que também acontecem nas escolas, como a contação de histórias, a rodinha de leitura, o cantinho de leitura e visitas semanais às bibliotecas podem garantir uma ligação positiva com a leitura, despertando o interesse”, afirma. Já a partir dos 11 anos, a leitura passa a ter menos presença no cotidiano escolar no qual os momentos são reduzidos às aulas de literatura que, normalmente, acontecem uma vez por semana.
“A partir da pré-adolescência as escolas começam a recomendar livros literários e o jovem deixa de escolher, porque os métodos mudam, incluindo a forma de lidar com a leitura junto às cobranças. Por isso é interessante que as escolas ofereçam aos alunos com idade acima de 11 anos estratégias diferenciadas para que o ensino da literatura não se resuma a um processo teórico, mas seja um processo contínuo da construção do leitor literário, dando espaço e liberdade para os jovens fazerem suas escolhas. Saber ler é uma oportunidade de contribuir para a transformação da sociedade”, elucida Raquel Baeta.
A mesma pesquisa observou que quem não tem o hábito de ler são os mais influenciados pelos meios digitais. Em 2015, 47% dos entrevistados afirmaram usar a internet no tempo livre, e em 2019 o percentual aumentou para 66%. O uso do WhatsApp passou de 43%, em 2015, para 62%, em 2019. Mas o jornalista e coordenador da pós-graduação “Comunicação e Marketing de Mídias Digitais”, da Estácio, Juliano Azevedo, pondera que a tecnologia não pode ser considerada a vilã da história.
“A questão da falta da leitura está relacionada à falta do hábito e de incentivo. Ler não é só a experiência do papel, a leitura também pode ser feita em e-books, sites, pois ler é buscar conhecimento e informações. O livro é uma experiência e a internet é outra experiência. As redes sociais, jogos e canais no YouTube, a depender do tipo de conteúdo, podem ser um incentivo à busca pelo conhecimento. A atual e as próximas gerações já nascem em contato com a tecnologia, então é possível conciliar a internet e seus recursos e ferramentas com a leitura”, informa Juliano Azevedo.
O coordenador lembra que, além das escolas, pais ou responsáveis devem estimular a leitura desde a infância compreendendo que o mundo hoje é real e on-line. “Pais e professores precisam se adaptar a esse novo modelo de aprendizagem e se interessar em saber o que a criança está acessando e aprendendo no mundo digital. Seja qual for o meio em que a leitura acontece, no papel ou pela internet, é importante saber o que os jovens estão fazendo com esse conhecimento”, destaca Azevedo.
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