Especialistas destacam importância da campanha de conscientização e incentivam busca por atendimento profissional para quem tem sofrido com sintomas psicológicos
Por todo o mês de setembro, a conscientização, desmistificação e prevenção ao suicídio são os assuntos mais abordados em diversas esferas da sociedade — isso graças à campanha Setembro Amarelo, adotada em nível mundial para combater a desinformação e ajudar a quem está em sofrimento.
Ainda considerada tabu, a discussão sobre prevenção ao suicídio e cuidados com a saúde mental é necessária para enfrentarmos um problema de saúde pública que atinge uma pessoa a cada 40 segundos no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
No Brasil, de acordo com levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, foram registradas 12.895 mortes por suicídios em 2020, o equivalente a um caso a cada 41 minutos. O número é estável em relação ao ano anterior, que registrou 12.745 óbitos, mas comprova a importância da campanha de prevenção.
“O suicídio ainda é um tabu na sociedade por ser um fenômeno que carrega muitas questões culturais, sociais e religiosas, e isso faz com que as pessoas não conversem sobre essa temática. Então, a visibilidade que a campanha traz ao assunto faz com que as pessoas se sintam mais confortáveis e seguras para falar sobre e buscarem ajuda”, afirma a professora Romeika de Sena, doutoranda em Enfermagem em Saúde Mental e docente da Estácio.
A especialista informa que existe uma nuance de comportamentos suicidas: ideação, planejamento, tentativa e o suicidio propriamente dito, e que a campanha colabora para a identificação de um comportamento na fase mais precoce, antes de se chegar propriamente a uma tentativa. Ainda de acordo com dados da OMS, uma pessoa atenta contra a própria vida a cada três segundos.
Fatores de risco
A cartilha “Informações importantes sobre doenças mentais e suicídio”, da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), destaca abuso sexual na infância, doenças incapacitantes e tentativa prévia como fatores que podem aumentar o risco de alguém cometer suicício.
Apesar de transtornos mentais como depressão, alterações de humor e de personalidade estarem frequentemente associados ao ato, a doutoranda em Enfermagem em Saúde Mental esclarece que não é necessário um diagnóstico dessas doenças para que haja risco de desenvolvimento de comportamentos suicidas.
“A pessoa pode estar passando por um sofrimento psíquico-mental intenso em que a sua resiliência esteja prejudicada naquele momento, e a partir disso, passar a desenvolver um dos comportamentos relacionados ao suicídio”, explica.
Diante disso, a especialista aponta comportamentos preocupantes a serem observados como “quando a pessoa está mais reclusa e se sente desesperançada ou triste a ponto disso interferir nas atividades diárias, o que pode refletir em frases como ‘não sirvo mais pra nada’, ‘a culpa é toda minha’, ‘se eu sumisse seria melhor’”.
Ajuda profissional é caminho para tratamento
Com o apelo do Setembro Amarelo, ao longo de todo o mês, é bastante comum vermos pessoas se oferecerem para conversar com alguém que esteja se sentindo triste. Mas, mesmo sendo a rede de apoio uma condição positiva para o tratamento, especialistas recomendam que aqueles que sintam necessidade de conversar sobre aflições de caráter emocional, busquem ajuda profissional qualificada com psicólogo e/ou médico psiquiatra, para que seja feita uma avaliação com diagnóstico e os encaminhamentos que se fizerem necessários.
“Quanto mais precocemente for identificado e tratado o quadro do paciente, melhores são as condições prognósticas. Existem estudos que apontam cada vez mais evidências de que a psicoterapia associada ao tratamento medicamentoso aumenta e potencializa a eficácia do tratamento de transtornos mentais: as medicações auxiliam na estabilização dos sintomas e as intervenções em psicoterapia trabalham os fatores e estressores que mantêm esses “sinais ativos’”, diz a docente do curso de Psicologia da Estácio Sydennya Lima, especialista em Saúde Mental e Terapias Cognitivas.
A profissional, que é responsável pela Clínica de Psicologia da faculdade, lembra que as doenças mentais são como quaisquer outras que necessitam de acompanhamento para que se possa ter qualidade de vida. “O estigma e o preconceito ainda dificultam a procura por tratamento adequado. Nesse sentido, procure profissionais qualificados, e a prevenção ainda é a melhor forma de cuidado”, orienta.
Centro de Valorização da Vida
Para aqueles que sentem necessidade de conversar sobre sintomas psicológicos que podem incomodar nesse sentido, o Centro de Valorização da Vida (CVV) também é uma opção de contato. A entidade realiza apoio emocional e prevenção do suicídio, atendendo voluntária e gratuitamente todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, pelo telefone 188, email e chat 24 horas todos os dias.
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