Desenvolvimento cognitivo e emocional podem ser afetados, com consequências como perda na qualidade do sono e na socialização, ou até transtornos mentais e físicos. Educadora propõe saídas.
Por g1 RN
Em um mundo cada vez mais conectado, o acesso a conteúdos digitais se tornou parte da infância. Smartphones, tablets e computadores estão presentes na rotina de crianças e adolescentes na maior parte dos lares brasileiros – e cada vez mais cedo.
Mas essa superexposição e os impactos do uso excessivo de telas pode ser preocupante, segundo especialistas no tema, e têm atraído a atenção das famílias e de educadores no Rio Grande do Norte e em todo o Brasil.
De acordo com pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil, entre 2019 e 2021, subiu de 79% para 92% o percentual de usuários da rede na faixa etária de 9 e 10 anos. Além disso, o órgão revelou que mais da metade das crianças e adolescentes brasileiros usam a internet sem limitação de tempo determinada pelos pais ou responsáveis.
Uma realidade que, segundo a psicóloga potiguar Juliana Guedes, pode trazer graves implicações.
Para ela, o consumo em excesso de redes sociais e jogos eletrônicos causam modificações na estrutura cerebral das crianças, afetando negativamente seu desenvolvimento cognitivo e emocional. As consequências vão desde a qualidade do sono e a socialização, até transtornos mentais e físicos.
“Além da ativação de certas substâncias neuroquímicas, com impactos na liberação em excesso de cortisol, estimulando uma resposta de estresse, por exemplo, a dependência crescente da tecnologia para a maioria das atividades lúdicas restringe consideravelmente os estímulos à criatividade e imaginação, assim como aqueles essenciais para o desenvolvimento motor e sensorial nessa fase da vida”, pontua Juliana.
Um estudo recente, publicado pelo The Journal of the American Medical Association Pediatrics, constatou que bebês de um ano de vida, quando expostos a mais de 4 horas de tempo de tela por dia, apresentaram maior dificuldade na comunicação e na habilidade de resolver problemas aos 2 e aos 4 anos de idade.
“As crianças acabam ficando incapazes de pensar em algo novo, descobrir o que fazer com o tédio, relaxar e estar consigo mesmas. Como as telas deixam o cérebro em constante demanda, elas se tornam mais reativas e nervosas, com sentimentos de inquietação e ansiedade”, explica a psicóloga.
Segundo ela, isso também resulta em dificuldades de concentração, aprendizagem e impulsividade.
Educadora propõe alternativas
As instituições de ensino também precisam lidar com a situação, que ficou ainda mais forte durante a pandemia.
Para a educadora Priscila Griner, as instituições desempenham um papel crucial na supervisão e seleção cuidadosa do conteúdo digital apresentado aos alunos.
“A escola não pode se isentar das tecnologias, mas é preciso encontrar um equilíbrio. Por isso, mesmo quando em formato digital, nosso conteúdo é selecionado, com planejamento e metodologias. Além disso, oferecemos às crianças muitas experiências que vão além das telas, como interações próximas, vivências com o corpo, uso de espaços diversos, o estímulo à criatividade, sentir e manusear a natureza e experimentar a arte”, comenta a diretora da Casa Escola, em Natal.
A educadora acredita que as ferramentas tecnológicas podem ser valiosas quando usadas com objetivos específicos que contribuam para a formação e o crescimento dos alunos. Ela explica que é o que tem buscado implantar na escola em que é diretora.
Um exemplo prático dessa estratégia foi a adoção do conteúdo didático em telas nas salas de aulas no período do retorno às aulas pós isolamento social por conta da pandemia da Covid.
“A gente percebeu, por exemplo, que ler um livro de forma convencional, com a cabeça baixa, fazia com que as crianças e adolescentes perdessem o foco e se distraíssem mais facilmente. Foi então que passamos a usar as telas para projeção dos conteúdos, pois a elas eles interagiam”, disse.
“Foi muito estranho, entretanto essa medida simples e eficaz atraiu mais a atenção dos alunos para o material didático de início, quando, paulatinamente, fomos mostrando às crianças o caminho prazeroso do livro físico”.
Segundo a diretora da escola, dessa forma “foi possível lançar mão das tecnologias compreendendo que naquele momento histórico pontual, de retorno às aulas, as crianças precisavam de uma transição respeitosa, do mundo digital para o mundo físico”.
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