Desde 2019, o início de fevereiro foi escolhido pelo poder público e organizações da sociedade civil para incentivar ações educativas e de prevenção, no enfrentamento a uma realidade ainda comum entre jovens meninas do país: a gravidez na adolescência. E não é por menos. Dados mais recentes do Ministério da Saúde apontam que, em 2020, 14% de todos os nascimentos no Brasil foram de mães com até 19 anos, um total de 380 mil partos contabilizados.
Para incentivar ações de prevenção e disseminação de informações sobre o tema, foi instituída, por meio da Lei 13.798/2019, a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez Precoce, entre os dias 1º e 8 de fevereiro. Para a obstetra e professora da UFRN Técia Maranhão, as discussões sobre o assunto merecem atenção principalmente neste período do ano, em função das férias e do maior período festivo do ano: o carnaval.
A obstetra associada à Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Rio Grande do Norte (SOGORN), alerta para os riscos oferecidos à saúde da jovem mãe, diante da gravidez precoce. “É de grande importância saber que a gravidez na mulher adolescente pode acarretar sérias complicações como mais alto risco de eclâmpsia, infecção puerperal e infecções generalizadas”, explica. Além dos sérios riscos oferecidos à mãe adolescente, a médica destaca ainda, que a saúde do recém-nascido, neste cenário, também pode ser acometida. “Os recém-nascidos de mães adolescentes apresentam maior risco para prematuridade, baixo peso e alterações neonatais graves”, esclarece.
Em relação às medidas de prevenção, a médica traz também orientações importantes. “Na Atenção Primária de Saúde (APS), mesmo sem a presença dos pais ou responsáveis, os/as adolescentes podem procurar a unidade de saúde mais próxima para se informar sobre os cuidados em saúde, e para conversar com os profissionais de saúde sobre prevenção da gravidez das ISTs. Usando este meio, podem sanar dúvidas e reduzir ansiedade, tornando-se mais seguros e confiantes sobre seu desenvolvimento e mais conscientes sobre seus direitos sexuais e reprodutivos. Por outro lado, os profissionais deverão apresentar atitudes positivas e acolhedoras com a população adolescente, considerando a diversidade e equidade de gênero, raça/cor e demais vulnerabilidades, e orientar sobre as intervenções adequadas dentro do plano de vida individualizado. Em caso de início da vida sexual, a orientação deve incluir o uso de métodos contraceptivos, favorecendo a autonomia e a livre escolha”, acrescenta.
Técia Maranhão também alerta que a repercussão de uma gravidez precoce vai muito além dos possíveis danos à saúde dessa mãe. A vida escolar interrompida é percebida como um dos reflexos desse cenário. “Ao engravidar, muitas meninas abandonam os estudos. Cerca de 20% das adolescentes que engravidaram deixaram de estudar, segundo pesquisa do EducaCenso 2019 que contemplou cerca de metade das escolas públicas e privadas do país. Quando as pessoas têm filhos muito jovens, em geral, passam a ter uma trajetória econômica menos próspera, e inclusive seguem tendo mais filhos sem planejamento. Essa é uma das maneiras como a gravidez nos jovens também afeta a sociedade nos países em desenvolvimento”, finaliza a médica.
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