Não é segredo pra ninguém. A inteligência artificial (IA) está por todos os lados e você certamente já foi impactado por ela. Mas quando o assunto é IA no jornalismo, ainda há mais dúvidas do que certezas. O que para alguns é o prenúncio do fim do ecossistema de notícias tal como o conhecemos, para outros é o começo de uma nova era de possibilidades.

Fato é que a geração automática de conteúdo por meio de algoritmos suscita debates sobre viés, precisão e direito digital. Além disso, é preciso levar em conta que a repetição de padrões linguísticos pode potencializar discursos discriminatórios, empobrecer a informação, reforçar estereótipos e perpetuar fake news.

Neste artigo, vamos refletir sobre essas questões éticas e analisar como a inteligência artificial pode ser uma aliada do fazer jornalístico. Ao final, apresentamos algumas táticas para utilizar a IA no jornalismo de maneira eficiente e responsável.

Boa leitura!

Jornalismo e tecnologia evoluem juntos

Antes de mergulharmos no universo das IAs, um pouco de história para acalmar os corações apocalípticos. Eu explico: se pensarmos historicamente, o jornalismo sempre foi uma área profundamente ancorada na tecnologia. Logo – e aqui já defendo o meu ponto de vista -, faz mais sentido pensar na IA como um novo ponto de inflexão do que como fim do jornalismo.

Afinal, desde a prensa de Gutenberg, no século 15, passando pela Revolução Industrial – as invenções do telégrafo, do telefone, da fotografia, do rádio, da televisão e da internet – é impossível desassociar o jornalismo das ferramentas que utilizamos para registrar o mundo e nos comunicar. 

Cada uma dessas tecnologias, a seu modo e em seu tempo, revolucionou a maneira como as notícias são produzidas, distribuídas e consumidas. E se hoje a inteligência artificial impõe novos desafios, não podemos negar a capacidade do jornalismo de se adaptar, reinventar-se e evoluir junto com a sociedade. 

ia no jornalismo

“O coração de Sampa ainda samba”

Lançado em novembro de 2022, o Chat GPT (Generative Pre-trained Transformer) apresentou ao mundo a inteligência artificial generativa, isto é, aquela capaz de criar conteúdo novo e original. Em contraste com a IA convencional, que pode ser treinada para executar tarefas específicas com base em conjuntos de dados existentes, a IA generativa cria conteúdo inédito, como textos, imagens, áudio ou vídeo, muitas vezes imprimindo um estilo específico.

Quer um exemplo? Propus ao Chat GPT o seguinte desafio: “Escreva um texto sobre o apagão em São Paulo como se fosse um samba de Adoniran Barbosa.”

E aqui está o resultado:

ia no jornalismo
Ok, não podemos dizer que ele foi exatamente criativo, mas este é um ótimo exemplo de como a IA generativa funciona, por meio de modelos de linguagem que buscam compreender e replicar padrões para gerar conteúdo novo. E a partir daí, o céu é o limite – ou melhor, precisamos falar de limites para a inteligência artificial. 

Limites éticos para utilização da IA no jornalismo

No início de 2023, um veículo americano especializado em tecnologia, o CNET, protagonizou um dos primeiros escândalos envolvendo a IA no jornalismo ao publicar artigos completamente gerados pelo ChatGPT, sem informar isso aos seus leitores. Após protestos, a empresa interrompeu a prática, prometendo fazer uma auditoria de todos os artigos escritos por IA. 

Ao final, mais da metade das publicações passaram por correções e, além das consequências éticas que abalaram a reputação do veículo de comunicação, uma investigação revelou que muitos desses materiais eram, na realidade, plágios de conteúdos anteriormente criados por seres humanos.

ia no jornalismo

A transparência e a propriedade intelectual são pontos centrais no debate sobre a utilização ética da IA no jornalismo. Nesse sentido, os veículos de comunicação precisam estabelecer diretrizes claras para o uso da IA, garantindo que a integridade jornalística, a transparência e o respeito pelos leitores sejam prioridades. Alguns limites éticos incluem:

  • Transparência e credibilidade: É essencial informar ao público quando um conteúdo – ou parte dele – foi gerado por inteligência artificial, sob pena de afetar a confiança do leitor no veículo e na origem da informação; 
  • Plágio e originalidade: Uma IA pode inadvertidamente reproduzir informações de fontes existentes, e é responsabilidade do veículo de comunicação verificar e garantir a autenticidade e a originalidade do conteúdo;
  • Viés e qualidade da informação: A qualidade do conteúdo gerado por uma IA pode ser duvidosa. Cabe ao jornalista assegurar a precisão e a relevância das informações antes da publicação;
  • Manipulação e desinformação: A IA tem o potencial de ser usada para manipular informações, criando notícias falsas ou enganosas. Aqui, mais uma vez, cabe a regra: desconfiar sempre, verificar tudo!

Táticas para aplicar IA no jornalismo

Compreender que a inteligência artificial generativa não é uma tecnologia futurista e distópica é o primeiro passo para encarar essa realidade. A IA existe, funciona e já faz parte do cotidiano de muitas empresas e usuários. Pensando nisso, listamos abaixo 7 táticas interessantes para aplicar IA no jornalismo, de maneira eficiente, ética e responsável.

1. Decupagem de entrevista

Quem nunca teve vontade de chorar quando se deparou com um vídeo ou áudio longo de uma entrevista para decupar? Pois é! Hoje em dia, já existem diversas ferramentas de inteligência artificial que transcrevem material audiovisual em pouquíssimo tempo. O SpeechTexter é uma delas.

2. Resumo de texto

Outra tarefa que consome grande parte da rotina de um jornalista é ler e resumir conteúdos. Mas, com a inteligência artificial, é possível ter sínteses precisas em poucos segundos. Um exemplo é a Rephrase que, além de resumo, é capaz de reescrever textos, checar se a gramática está correta e verificar se o texto em questão foi plagiado.

3. Análise de dados

Sabe aquela pesquisa super importante (e longa), lançada sempre no finalzinho do expediente? A boa notícia é que ferramentas de IA, como o ChatPDF, também podem ajudar na análise de grandes conjuntos de dados, identificar tendências, insights ou conexões em informações complexas.

4. Escrita assistida

A inteligência artificial pode ser a sua melhor amiga na redação de textos para formatos e públicos diversos. IAs, como o ChatGPT, fornecem sugestões de palavras, significados, fazem correções gramaticais, adaptam o estilo, o tom do texto e podem ser muito úteis na estruturação de ideias.

5. Edição de vídeo e áudio

Ferramentas de IA podem ser usadas na edição automatizada de vídeos e áudios, facilitando tarefas como transcrição, legendagem e até mesmo identificação de elementos visuais. Um exemplo é a Animoto, uma plataforma de edição de vídeo alimentada por IA que permite aos usuários criar vídeos com aparência profissional de maneira rápida, fácil e intuitiva.

6. Verificação de fatos

Quando usada de maneira adequada, a inteligência artificial é uma ótima forma de checar informações, conferindo a veracidade de informações e ajudando a identificar e combater fake news. Um exemplo de sucesso nesse sentido é a ferramenta Legislatech, do Núcleo Jornalismo.

7. Personalização de notícias

Em um mundo cada vez mais digital, onde a informação circula aos montes e em tempo real, chamar a atenção do leitor pode ser bastante desafiador. E é aí que entram os sistemas de recomendação baseados em IA, que podem ajudar a personalizar as notícias de acordo com os interesses do leitor, aumentando o engajamento e a relevância do conteúdo.

ia no jornalismo

Esses são alguns exemplos de como a IA, quando utilizada de forma estratégica e responsável, pode tornar o trabalho do jornalista mais eficiente, aprimorando a qualidade do conteúdo e oferecendo suporte criativo. Vale lembrar, contudo, que a supervisão humana continua sendo crucial para garantir a precisão e a coerência do texto final.

Afinal, nada substitui o faro do jornalista, capaz de compreender o contexto das coisas e ver informação nas entrelinhas dos fatos.

Ou seja, a principal discussão para o momento não é se a inteligência artificial vai ou não substituir os jornalistas, mas como utilizar as ferramentas de IA no jornalismo para comunicar, educar o leitor e manter-se relevante. O desafio está lançado, e nós, da Letra A, topamos a parada!

Ainda que as tecnologias evoluam e a inteligência se torne cada vez mais “artificial”, nós defendemos que nada substitui o humano. Esse é o nosso diferencial e é isso que nos faz referência em atendimento e relacionamento com o mercado. Vamos bater um papo?

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Sobre o autor: Carla Cruz

Jornalista com pós-graduação em Propaganda e Marketing na Gestão de Marcas, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Carla Cruz tem mais de 10 anos de experiência em assessoria de comunicação e marketing. Atuou em grandes empresas do setor público e da iniciativa privada. Na Letra A, é Head de Transformação Digital e fala sobre tecnologia, inbound marketing e presença digital.

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